sexta-feira, 16 de julho de 2010

Novela gótica


A novela gótica ou de terror é um género literário relacionado estreitamente com o de terror e subsumido neste, no ponto de que é difícil diferenciar um do outro. De facto, não pode se dizer que existisse a novela de terror até o aparecimento do terror gótico.

É uma classe de textos incluída dentro do subgénero novela, inscrito a sua vez no archigénero épico ou narrativo. É preciso distinguir da narração]] popular fantástica (folklore) e de conto-os]]s tradicionais de aparecidos, porque desenvolve-se fundamentalmente desde fins do século XVIII à actualidade e possui características diferentes, sócias em general com o movimento estético conhecido como Romantismo. Em alguns manuais de literatura faz-se referência à novela gótica também como novela negra,conquanto este termo pode dar lugar na actualidade a equívocos.
Estritamente falando, a primeira novela gótica foi O castelo de Otranto (1765) de Horace Walpole e a última Melmoth o errabundo (1815) de Charles Maturin. Entre estes dois autores escreveram William Beckford Vathek (1786, originalmente em francês), Ann Radcliffe Os mistérios de Udolfo (1794), William Godwin As aventuras de Caleb Williams (Londres, 1794), Matthew Lewis O Monge (1796) e Jan Potocki Manuscrito encontrado em Zaragoza (1805).
Posteriormente existe uma literatura de terror que mais ou menos se inspira nestas obras canónicas do género e às vezes se mistura com outros géneros. A ela pertencem obras como A abadia de Northanger de Jane Austen, que é em realidade uma paródia de Os mistérios de Udolfo; Jane Eyre de Charlotte Brontë ou Cimeiras borrascosas de sua irmã Emily Brontë; as invenções góticas de Edgar Allan Poe; Frankenstein ou o moderno Prometeo de Mary Shelley, que é em realidade a primeira novela de ciência-ficção]]; Drácula de Bram Stoker, ou as modernas obras de autores como Ira Levin (A Semente do Diabo), Peter Straub ou Anne Encrespe, por mencionar alguns.
As características deste género passam por uma ambientación romântica: paisagens sombrias, bosques tenebrosos, ruínas medievales e castelos com seus respectivos sótanos, criptas e pasadizos bem povoados de fantasmas, ruídos nocturnos, correntes, esqueletos, demónios... Personagens fascinantes, estranhos e estrangeiros, perigo e raparigas em apuros; os elementos sobrenaturales podem aparecer ou sólamente ser sugeridos. A localização eleita, em tempo e espaço, respondia à demanda de temas exóticos característica do medievalismo, o exotismo e o orientalismo próprios da época (que incluía à imagem tópica de Espanha como um dos meios mais adequados para isso).
Em Espanha cultivaron o género José de Urcullu, tradutor de Contos de duendes e aparecidos, Londres, 1825. Agustín Pérez Zaragoza, tradutor, refundidor e autor dos doze volumes de Galería fúnebre de espectros, aparecidos e sombras ensangrentadas, 1831. Antonio Ros de Olano, Gustavo Adolfo Bécquer, com suas Lendas em prosa e José Zorrilla, com sua lendas em verso, Miguel dos Santos Álvarez e Pedro Antonio de Alarcón com alguns de seus Contos.

Introdução

O adjectivo gótico deriva de que grande parte destas histórias trascurren em castelos e monasterios medievales. Em sentido estrito, o terror gótico foi uma moda literária, fundamentalmente anglosajona, que se estendeu desde finais do século XVIII até finais do século XIX, como reacção ao Racionalismo. Na literatura de terror moderna os velhos arquetipos não desapareceram totalmente.
O movimento gótico surge na Inglaterra]] no final do século XVIII. O renacimiento do gótico foi a expressão emocional, estética e filosófica que reagiu contra o pensamento dominante da Ilustração, segundo o qual a humanidade podia obter o conhecimento verdadeiro e obter felicidade e virtude perfeitas; seu insaciable apetito por este conhecimento deixava de lado a ideia de que o medo podia ser também sublime.
As ideias de ordem da Ilustração vão sendo relegadas e dão passo à afición pelo gótico na Inglaterra e assim se vai abrindo o caminho para a fundação de uma escola da literatura gótica, derivada de modelos alemães.
As narrativas góticas abundan entre 1765 e 1820, com a iconografía que nos é conhecida: cemitérios, páramos e castelos tenebrosos cheios de mistério, villanos infernais, homens lobo, vampiros, doppelgänger (transmutadores, ou dupla personalidade) e demónios, etc..
Os ingredientes deste subgénero são castelo]]s embrujados, criptas, fantasmas ou monstros, bem como as tormentas e tempestades, a nocturnidad e o simples detalhe truculento, todo isso surgido muitas vezes de Lenda|lendas]] populares. Fá-la fundadora do gótico é O castelo de Otranto, de Horace Walpole (1765). Outras obras finques desta corrente são Vathek (1786), de William Beckford, Os mistérios de Udolfo (1794), de Ann Radcliffe, O Monge, de Matthew Lewis, publicada em 1796, Melmoth o errabundo (1820), de Charles Robert Maturin e Manuscrito encontrado em Zaragoza de Jan Potocki. O Romantismo explorou esta literatura, quase sempre inspiradora de sentimentos morbosos e angustiantes, que atingiu seu máximo esplandor no século XIX, a impulsos da descoberta do jogo mórbido com o inconsciente.
No entanto, obras de pleno século XIX como Chá verde, de Sheridan Lhe Fanu, Frankenstein, de Mary Shelley, O coração delator, de Edgar Allan Poe, e, mais adiante, Janet, Pescoço Torcido, de R. L. Stevenson]], Drácula, de Bram Stoker, O Horla, de Guy de Maupassant, Outra volta de tuerca, de Henry James, etc., pode dizer-se que superam o terror gótico, pois não reúnem as citadas características. Salvo em casos excepcionais, tendem ao formato curto do conto em menoscabo da novela; não se recorre às freiras ensangrentadas, nem são elementos necessários os aullidos espectrales e os trovões, raios e centellas de tormentas; não têm por que decorrer em palcos ruinosos, castelos e monasterios medievales; os fantasmas que apresentam não estão “encadeados”; mal têm que ver com lendas populares... Portanto podem considerar-se já como obras plenamente representativas do terror moderno que atingirá a nossos dias, conquanto neste ponto a opinião dos críticos está dividida.
Nos relatos góticos adverte-se um erotismo larvado e um amor pelo decadente e ruinoso. A depresión profunda, a angústia, a solidão, o amor enfermizo, aparecem nestes textos vinculados com o oculto e o sobrenatural. Alguns autores sustentam que o gótico tem sido o pai do género de terror, que com posterioridad explodiu o fenómeno do medo com menor énfasis nos sentimentos de depresión, decadência e exaltación do ruinoso e macabro que foram o selo da literatura romântica goticista.
O escritor romântico espanhol Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870) incluiu em suas Lendas alguns relatos de medo muito meritorios como Maese Pérez, o Organista, O Miserere e O Monte das Ánimas.
A fins do século XIX, Oscar Wilde tomou este subgénero com humor em seu relato O fantasma de Canterville.
Os cantos de Maldoror de Isidore Ducasse -Conde de Lautréamont- é uma obra considerada como precursora do surrealismo. Não obstante, contém elementos narrativos que permitem rastrear rasgos e influências de obras como Melmoth, como o assinala Marcelyn Pleynet em seu estudo sobre Lautréamont. No caso de maldoror, este é apresentado como um ser que mediante a metamorfosis espreita aos homens. Maurice Blanchot e Gaston Bachelard analisam o bestiario de forma-las animais adoptadas por Maldoror; este costuma se denominar a si mesmo com os apelativos de: O vampiro, aquele que não sabe chorar, o montevideano, entre outros.
A escritora norte-americana Anne Encrespe, cujas obras misturam o quotidiano com histórias de vampiros e de erotismo escuro, tem tratado de revitalizar, tematicamente, o terror gótico. H. P. Lovecraft, por sua vez, conseguiria sintetizar nas primeiras décadas do século XX a tradição que partia do gótico com a ciência ficção contemporânea. Actualmente o gótico aparece em alguns autores (ao menos em determinadas obras): Angela Carter, P. McGrath, A. S. Byatt, etc.

Características da literatura gótica

Dentro das características do movimento gótico encontram-se:
·         É melodramática, exagera as personagens e as situações com o fim de acentuar os efeitos estéticos.
·         O autor cria um marco ou palco sobrenatural capaz, muitas vezes por si mesmo, de suscitar sentimentos de mistério ou terror.
·         Em relação com o anterior, importância do palco arquitectónico, que serve para enriquecer a trama; as sombras e contornos de luz delimitan espaços e recreiam sentimentos melancólicos. Recurso, pois, a todo o tipo de elemento “escuro”.
·         Exaltación da relação entre terror e êxtase.
·         Exaltación da morte, a decadência, os abismos, trevas etc..
·         Referências à loucura, o irracional, a bestialidad e demais características desumanas ou sobrenaturales.
·         Clara polarización entre o Bem e o Mau, este último com freqüência interpretado por uma personagem que fará as vezes de villano.

O terror moderno

O terror moderno é a etapa da literatura de terror que se desenvolve já a partir da primeira metade do século XIX por obra de precursores, como o norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849) e o irlandês Joseph Sheridan Lhe Fanu (1814-1873), cujas contribuições, especialmente o chamado terror psicológico, supuseram uma profunda transformação da literatura de terror gótico anterior, de raízes estritamente românticas, e que, como se viu, utilizava como principal recurso o “susto” e outras técnicas que hoje poderiam passar por antiquadas e rudimentarias.

História

Já nas postrimerías do século XIX o conto de horror ou de fantasmas experimentaria novamente um grande avanço a resultas das contribuições dos grandes cultivadores que encontrou esta modalidade na Inglaterra (algum seria de outra nacionalidade, como o francês Guy de Maupassant), nas épocas victoriana e eduardiana. Autores como Robert Louis Stevenson, M. R. James, Henry James, Saki (Hector Hugh Munro) e Arthur Machen, entre outros, exerceriam uma profunda renovação de estilos, temas e conteúdos que, já em pleno século XX, acabaria desembocando no último autor maior do género: o norte-americano Howard Phillips Lovecraft (1890-1937). Com ele, o género macabro experimentaria novamente um giro de 180 graus.
Este autor, cujo principal referente, segundo ele mesmo confessava, era seu compatriota Poe, foi o criador do chamado “conto materialista de terror” (por oposição ao “espiritualismo” a ultranza próprio do relato de fantasmas tradicional). Introduziu, ademais, no género elementos e conteúdos próprios da naciente ciência-ficção, o que teria amplas repercussões em toda a literatura e o cinema posteriores. Lovecraft, orientando-se em princípio a partir das subyugantes fantasías que lhe proporcionava seu próprio mundo onírico, soube conciliar estas com os ensinos de autores de seu predilección como Poe, Lord Dunsany, Ambrose Bierce, Algernon Blackwood e William Hope Hodgson, o que deu como resultado a espantosa invenção de uma nova mitología pagana, os Mitos de Cthulhu, através da qual conseguiu dar cumprida expressão aos muitos terrores e obsedes que anidaban em sua personalidade enfermiza. No entanto, em ocasiões tem-se achacado a Lovecraft um estilo encorsetado, abundante em adjectivos e fórmulas repetitivas, que faz que seus argumentos podem se predizer com facilidade à medida que o leitor assimila a técnica do autor.
É necessário mencionar neste ponto ao grupo de autores que acompanhou a Lovecraft em seu alucinante periplo literário, publicando relatos na famosa revista norte-americana Weird Tais, uns pertencentes ao Círculo de Lovecraft e outros independentes: Robert Bloch, Clark Ashton Smith, Fritz Leiber, Frank Belknap Long, Henry Kuttner, Seabury Quinn, August Derleth, Robert E. Howard, Donald Wandrei, etc., alguns deles, a julgar pela opinião dos críticos, de valores literariamente discutibles.
Um dos modelos de Lovecraft é o autor inglês, já citado, William Hope Hodgson ao qual se considera um precursor do género de terror materialista criado por aquele. Nascido em 1875 e morrido em 1918, sua obra “A casa do fim do mundo” narra em primeira pessoa as peripecias do habitante de uma pequena aldeia irlandesa que é raptado por uns seres metade homens, metade bestas, e transportado a outra dimensão.
Mas o escritor que grande parte da crítica situa ao lado de Poe, Lovecraft e Maupassant no panteón de ilustres cultivadores do medo, é o norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914?), quem através de contundentes filigranas como Um terror sagrado, A ventada cegada e A coisa maldita se evidenció como maestro absoluto na recreación de tensas atmosferas desasosegantes no meio das quais estalla de repente um horror absorbente e feroz.
O tópico do homem lobo foi introduzido no género por Guy Endore, com sua novela “O homem lobo em Paris”, 1933.
A última hornada do género de terror conta com figuras literariamente controvertidas, a maioria procedentes do mundo anglosajón, como Stephen King, Ramsey Campbell e Clive Barker, autores de grande número de best-sellers, alguns dos quais têm sido adaptados com sucesso ao cinema. Nos últimos anos, a produção deste género transladou-se, em grande parte, desde o campo da literatura ao da cinematografía, a historieta, a televisão e o video-jogos, dando origem a um novo subgénero de terror, o gore, caracterizado pelo fácil recurso às cenas sangrentas e a casquería barata.

Bibliografía

·         O castelo de Otranto (1765), de Horace Walpole.
·         Sir Bertram (1773), de Barbauld.
·         The Recess (1785), de Sophia Lê.
·         Vathek (1786), de William Beckford.
·         Os mistérios de Udolfo (1794), de Ann Radcliffe.
·         As aventuras de Caleb Williams (1794), de William Godwin
·         O Monge (1796), de Matthew Gregory Lewis.
·         Wieland ou a transformação (1798), de Charles Brocken.
·         St. León (1799), de William Godwin.
·         Manuscrito encontrado em Zaragoza (1805), de Jan Potocki.
·         Os elixires do diabo (1815-1816) (Die elixiere dás Teufels), de E. T. A. Hoffmann.
·         Frankenstein ou O moderno Prometeo (1818), de Mary Shelley.
·         O Vampiro (1819), de John William Polidori
·         Melmoth o errabundo (1820), de Charles Robert Maturin
·         Vampirismo (1821), de E. T. A. Hoffmann
·         A queda da casa Usher (1839), de Edgar Allan Poe
·         Varney o vampiro ou o banquete de sangue (1847), de Thomas Preskett.
·         O monte das ánimas (1861), de Gustavo Adolfo Bécquer
·         Carmilla (1872), de J. S. Lhe Fanu]].
·         O fantasma de Canterville (1887), de Oscar Wilde
·         O retrato de Dorian Gray (1891), de Oscar Wilde
·         Outra volta de tuerca (1897), de Henry James
·         Drácula (1897), de Bram Stoker
·         A besta na gruta (1905), de Howard Phillips Lovecraft
·         O fantasma da ópera (1910), de Gastón Leroux
·         A torre dos sete importunados (1944), de Emilio Carrere

Um comentário:

  1. Caramba! Post super completo prá quem se interessa pelo assunto(como eu). Meu namorado baixou 'Castelo de Otranto', mas após abrir o arquivo não tinha nada a ver. bjs

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