A caça de bruxas é a busca de bruxas ou evidências de bruxearia, que levava a acusar à pessoa afetada de bruxearia, a um julgamento e finalmente a uma condenação. Muitas culturas, tanto antigas como modernas, têm reagido de forma pontual às acusações de bruxearia com medo supersticioso e têm castigado, ou inclusive assassinado, aos supostos ou supostas praticantes.
A caça de bruxas como fenómeno generalizado é característica da Europa Central a inícios da Época Moderna. Base para a perseguição em massa de mulheres (pontualmente também menores e homens e inclusive animais) pela Igreja e, sobretudo pela justiça civil, foi à ideia, estendida entre teólogos e juristas, de uma conspiração do Demônio para acabar com Cristandade.
As caças de bruxas ainda ocorrem na atualidade e costumam se classificar dentro do chamado pânico moral. De forma geral, o termo tem chegado a denotar a perseguição de um inimigo percebido (habitualmente um grupo social não conformista) de forma extremamente tendenciosa e independente da inocência ou culpabilidade real.
Antecedentes
A Antiguidade:
A crença em magos pode-se documentar nas grandes culturas do passado. As artes mágicas eram observadas de perto na época e com frequência temia-se que fossem magia negra. Tanto no Código de Hammurabi (a prova da água) de Babilônia como no Antigo Egipto se castigava aos magos. No entanto nunca chegou a uma perseguição em massa de supostas bruxas, como se realizaria mais tarde a começos da Época Moderna.
A Biblia, sobretudo o Antigo Testamento, proíbe a magia: «Não realizareis adivinhação nem magia» (Levítico 19,26; Deuteronomio 10,10). Ademais chama à perseguição da magia: «Os magos não os deixarás viver» (Éxodo 22,17). Esta formulação foi traduzida, de forma gramaticalmente correta, mais tarde por Lutero como «As magas não as deixarás viver». Mas bruxas, no sentido moderno, não aparecem na Bíblia, o que não evitou que os teóricos da bruxearia usassem estas menções como prova de sua existência e para sua condenação.
Em outros lugares da Bíblia, encontros com magos e adivinhadores relatam-se de forma algo mais positiva. O rei Saúl procura conselho na Bruxa de Endor (I Samuel 28,5-25), apesar de que ele mesmo tinha proibido a adivinhação, por seu desespero ante os filisteos. Em mudança, os Reis Magos que rendem homenagem ao menino Jesús (Evangelho de Mateo 2,1-2), não são realmente feiticeiros ou adivinhos; o original grego utiliza a palavra “magi”, que nesse então designava mais bem a sábios e cientistas, mais que a bruxos.
A Igreja primitiva em general não participa destas perseguições. No entanto existem casos isolados, como o martírio da filósofa neoplatónica Hipatia por uma multidão cristã no ano 415, confundida em sua ignorância ante os vastos conhecimentos da filósofa. Este facto foi condenado oficialmente pela Igreja como uma grande vergonha. Não tinha então uma perseguição explícita, ainda que já a Igreja primitiva recusasse as práticas e o pensamento das bruxas como uma superstição (Canon episcopi).
A Idade Média:
Os germanos dantes de sua conversão ao cristianismo conheciam queima-a dos magos que realizavam encantamentos prejudiciais. No entanto na Baixa Idade Média carolíngia não teve caça de bruxas. De facto, o Concilio de Paderborn do ano 785 castigava tanto a crença em bruxas como sua perseguição:
Quem, cegado pelo Demónio, crê como os pagãos que alguém é uma bruxa e come a pessoas, e a queime por isso ou deixa comer sua carne por outros, será castigado a pena de morte.
Carlomagno validou-o com uma lei, provavelmente relacionada com as práticas pagãs dos Sajones contra as que o rei lutava na década dos anos 80 do século VIII.
Em Hungria referem-se a elas em latim como strigis e cedo na Baixa Idade Média, o rei Colomán de Hungria (1095-1116) sancionou em um de seus livros de lei um artigo que rezava: "De strigis vero, quae non sunt, nulla quaestio fiat" ("Sobre as bruxas, já que estas não existem, não far-se-ão exames indagando por elas"). Depois disto foi o reino cristão e católico húngaro uma das exceções durante a época medieval em onde a bruxearia não foi perseguida. De facto, os posteriores monarcas húngaros foram em extremo flexíveis com os judeus, cumanos e uzbecos muçulmanos, bem como com as outras etnias croatas, sérvias e eslovacas que habitavam dentro das fronteiras do reino, respeitando seus idiomas e particularidades culturais.
Na Alemanha, as primeiras provas da existência da palavra bruxa, Hexe, aparecem nos Frevelbüchern (leis) da cidade de Schaffhausen de finais do século XIV (1368/87) como tem demonstrado Oliver Landolt. Em Lucerna aparece a palavra pela primeira vez em 1402.
Inquisição:
As primeiras condenações de bruxas realizam-se no século XIII, com o aparecimento da Inquisição, cuja atividade principal não é a bruxearia, senão os hereges.
A bruxearia não resultava inicialmente um perigo tão grande como as demais heresias medievais. A questão aparece aclarada nas instruções do Papa Alejandro IV dos 20 de janeiro de 1260 aos inquisidores, de forma que as bruxas não devem ser perseguidas de forma ativa, senão só baixa denúncia. Os processos contra bruxas deverão ser relegados sem falta tempo: a luta contra as heresias tem prioridade. Mais tarde, a Inquisição inclusive condenaria os processos a bruxas.
A caça de bruxas na Europa moderna:
O telefonema caça de bruxas por excelência realizou-se a começos da Época Moderna, sobretudo na Europa Central. Baseavam-se na denúncia a supostos seguidores da chamada ciência das bruxas. Na perseguição de 1450 – 1750 (com um máximo entre 1550 e 1650) tratavam-se só em parte de uma ação eclesiástica contra a heresia, principalmente se tratava de um fenómeno de histeria coletiva contra a magia e a bruxearia, que converteu a magia em um delito e tiveram como consequência recriminações, denúncias, processos públicos em massa e execuções.
Investigações recentes mostram que frequentemente se suspeitava de bruxearia em mulheres velhas e nos socialmente mais débeis. Com frequência bastavam rumores ou denúncias para pôr em marcha a maquinaria judicial, que levava a conseguir confissões falsas através da tortura.
De parte das igrejas católica e protestante teve críticas isoladas à caça de bruxas: Johannes Brenz, Johann Matthäus Meyfart, Anton Praetorius, Friedrich Von Spee.
A imagem da bruxa:
No final da Idade Média começou a configurar-se uma nova imagem da bruxa, que tem sua principal origem na associação da bruxearia com o culto ao Diabo (demonolatria) e, portanto, com a idolatria (adoração de deuses) e a heresia (desvio da ortodoxia). Se em datas anteriores os principais interessados no castigo dos delitos de bruxearia tinham sido os próprios vizinhos das bruxas, que sofriam diretamente suas supostas ações maléficas, uma vez que se estabeleceu a relação da bruxearia com o culto diabólico passou a ser um assunto de interesse direto tanto para a Igreja, encarregada de manter a ortodoxia, como para as autoridades civis.
Ainda que o primeiro processo por bruxearia em que estão documentadas acusações de associação com o Diabo teve lugar em Kilkenny, Irlanda, em 1324 -1325, só para 1420-1430 pode se considerar suficientemente consolidada a imagem da bruxa presente à imensa maioria das "caças de bruxas" da Idade Moderna na Europa. Ainda que existam variantes regionais, podem ser descritas uma série de características básicas, reiteradas tanto nas atas dos julgamentos como na abundante literatura culta sobre o tema que se escreveu na Europa durante os séculos XV, XVI e XVII.
Atribuía-se aos arguidos de bruxearia um pacto com o diabo. Achava-se que ao concluir o pacto, o Diabo marcava o corpo da bruxa, e que uma inspeção detida do mesmo podia permitir sua identificação como feiticeira. Mediante o pacto, a bruxa comprometia-se a render culto ao Diabo a mudança da aquisição de alguns poderes sobrenaturais. Entre estes poderes estava, logicamente, a capacidade de causar malefícios de diferentes tipos, que podiam afetar tanto às pessoas como a elementos da natureza; em numerosas ocasiões, junto a estes supostos poderes considerava-se também às bruxas capazes de voar (em paus, animais, demónios ou com ajuda de pomadas), e inclusive o de se transformar em animais (preferencialmente lobos). Não todos os teólogos da época creram na realidade física dos voos e metamorfoses de bruxas: alguns os atribuíam a ilusões ou sonhos induzidos pelo Diabo.
Segundo estas crenças, as bruxas iam a determinadas datas a reuniões noturnas denominadas "aquelarres", ou mais geralmente "sabbats", às que se deslocavam em ocasiões por meios ordinários e outras vezes de forma sobrenatural. Nos aquelarres tinham lugar cerimónias que eram basicamente um sacrilégio, de aspetos da liturgia cristã, reinava a promiscuidade sexual, e se realizavam atividades repulsivas (as acusações mais frequentes eram as de infanticídio e canibalismo infantil). O Diabo (descrito de muito diferentes formas: às vezes com forma humana, mas também frequentemente de cabra macho ou outro animal), era adorado pelas bruxas (com cerimónias como o chamado "osculum infame"), e às vezes se unia sexualmente a elas.
Não todos os suspeitos de bruxearia eram mulheres (teve uma significativa percentagem de homens processados e executados por delitos de bruxearia), mas se considerava à mulher mais inclinada ao pecado, mais receptiva à influência do Demónio, e, por tanto, mais provável a se converter em bruxa. O conceito de bruxearia na Idade Moderna tem um forte carácter misógino.
Este estereotipa negativo da bruxa tem estreitos pontos de contato com as imagens igualmente negativas adjudicadas historicamente a hereges e a judeus. Muito revelador é o nome de "sabbat" (no sábado hebreu) para designar as reuniões de bruxas.
De grande significado era a ideia de uma confabulação de bruxas. Da transformação de preconceitos que se tinha tendido contra os judeus durante séculos, se formou a imagem de uma «Synagoga Satanae», Sinagoga de Satanás , que mais tarde chamar-se-ia sabat das bruxas ou aquelarre. Pensava-se que se tratava de uma reunião orgiástica na que se zomba a Deus e a sua Igreja. A mesma existência da Cristandade estaria ameaçada por esta seita de bruxas.
Este conceito de bruxearia difundiu-se por toda a Europa mediante uma série de tratados de demonologia e manuais para inquisidores que se publicaram desde finais do século XV até avançado no século XVII. O primeiro em atingir grande repercussão, graças à recente invenção da imprenta, foi o Malleus Maleficarum ("Martelo das bruxas", em latín), um tratado filosófico-escolástico desapaixonado e racional publicado em 1486 por dois inquisidores domínicos, Heinrich Kramer (Henricus Institoris, em latín) e Jacob Sprenger. O livro não só afirmava a realidade da existência das bruxas, conforme à imagem dantes mencionada, senão que afirmava que não crer em bruxas era um delito equivalente à heresia: «Hairesis maxima est opera maleficarum non credere» (A maior heresia é não crer na obra das bruxas). O Malleus chegaria a ser o manual mais utilizado na caça de bruxas nos estados católicos do Sacro Império Romano Germânico, apesar de que constava no Index de livros proibidos pela Igreja Católica.
Grande importância teve também o Tractatus de Hereticis et Sortilegiis, publicado em 1524 por Paulus Grillandus.
A bula Summis desiderantes
A bula papal contra as bruxas redigida por Heinrich Institoris em 1484 e assinada pelo Papa Inocencio VIII, a Summis desiderantes, só teve uma influência duradoura nos territórios católicos, mas foram apoiadas e aceitadas pelas demais igrejas ocidentais: luteranos, reformados, anglicanos e puritanos. Só as igrejas orientais não participaram na caça de bruxas.
A posição de Lutero em frente à caça de bruxas
Lutero e Calvino estavam convencidos da possibilidade do pacto com o Diabo, de ter sexo com o Demónio e da magia negra, e apoiava a perseguição judicial de magos e bruxas.
A afirmação do Antigo Testamento «as magas não deverás as deixar com vida» tinha toda a validade para Lutero. A questão está clara em sua prédica do 6 de maio de 1526 sobre a frase na que mostra sua profunda rejeição ao mau da bruxearia e justifica o implacável acusação das mulheres suspeitas:
É uma lei muito justa, que as bruxas sejam morridas, porque produzem muitos danos, o que tem sido ignorado até o presente, podem roubar leite, manteiga e tudo de uma casa... Podem encantar a meninos... Também podem gerar misteriosas doenças no joelho, que o corpo se consuma... Danos produzem-nos a corpo e alma, dão poções e encantamentos, para gerar ódio, amor, tormentas e destroços nas casas, no campo, que ninguém pode curar... As magas devem ser condenadas a morte, porque são ladras, separadoras de casais, bandidos, assassinas... Danificam de muitas formas. De modo que devem ser acusadas, não só pelos danos, senão também por que tratam com Satanás.
Lutero era um claro partidário da pena de morte para a magia negra, com um forte acento misógino. Em seu prédica do 6 de maio de 1526, Lutero afirma cinco vezes «devem ser acusadas». No entanto, Lutero não era um caçador de bruxas zeloso.
Inumeráveis teólogos, predicadores e juristas luteranos referiram-se mais tarde às contundentes afirmações de Lutero. Até a atualidade existem referências à bruxearia e à magia no Pequeno Catecismo de Lutero e em Catecismo reformado de Heidelberg.
Desenvolvimento dos processos:
A perseguição das bruxas realizava-se, ao invés que no caso da Inquisição, por julgados civis e em muitos casos por denúncias populares. Um exemplo conhecido é o da mãe de Johannes Kepler, que foi denunciada por bruxearia por uma vizinha em 1615 por causa de uma disputa entre ambas. Esteve presa mais de um ano, ameaçada de tortura, mas foi finalmente libertada graças aos esforços do filho.
Os processos em caso de bruxearia faziam-se segundo o seguinte sistema:
- Acusação. Com frequência precedia à acusação uma fase de rumores que podia durar anos. A acusação podia ser devida a uma denúncia de uma bruxa que já tinha sido detida, possivelmente baixa tortura. Rara vez permitia-se às supostas bruxas uma defesa.
- Detenção. Os cárceres, no sentido moderno, ainda não existiam pelo que se mantinha aos presos em masmorras ou torres. As chamadas torres de bruxas que ainda se conhecem em muitos lugares, não eram exclusivamente para bruxas, senão era para todo o tipo de prisioneiros. Com frequência eram simples torres das muralhas da cidade.
- Interrogatório. Normalmente distinguiam-se três fases: o interrogatório por bem, o interrogatório com explicação e mostra dos instrumentos de tortura e o interrogatório doloroso, na que se empregava a tortura. Nos casos de processos a bruxas, a limitação há uma hora não era respeitada, já que se tratava de crime exceptum (crimes excepcionais), o que exigia uma dureza especial. Com frequência empregavam-se as empulgueras, a roda, o potro e a bota espanhola. Também não se respeitava a regra habitual de que só se podiam torturar a um preso três vezes e, se até esse momento não se tinha produzido uma confissão, libertar ao preso. No Malleus maleficarum recomendava-se declarar retoma-a ilegal da tortura são provas novas como uma continuação.
- Provas às bruxas. Os processos oficiais não previam as provas de bruxas, de facto estava proibido seu uso. No entanto muitos tribunais em diversos lugares empregaram este elemento. A valoração das provas era tão diferente como seu emprego. Às vezes empregavam-se como prova forte, às vezes como prova débil. As seguintes são as mais conhecidas:
- Prova da água (judicium aquae, também chamada banho da bruxa), da que existiam duas variantes. Com água quente, a bruxa devia sacar um objeto da água fervendo. Com água fria, descia-se à bruxa atada a um poço e se se afundava resultava inocente (processo no que podia morrer afogada).
- Prova do fogo (empregada rara vez) agrupa a diversas provas nas que a bruxa tinha que andar sobre ou transportar ferro candente ou meter a mão no fogo.
- Prova da agulha. Se se encontrava uma marca do Demónio, se picava com um ferro. Se a zona sangrava considerava-se bom sinal.
- Prova das lágrimas, já que se achava que as bruxas não podiam chorar.
- Prova do peso, porque se afirmava que uma bruxa não podia pesar mais de 5 kg., já que tinha que poder flutuar (prova da água) e voar.
- Confessional. Os começos do Renacimiento, ninguém podia ser julgado sem confissão – o que também era válido para as bruxas. Mas, como se ignoravam as habituais regras durante a tortura, a probabilidade de obter uma confissão multiplicava-se enormemente com respeito aos processos normais.
- Interrogatório para obter cúmplices. Já que segundo a ciência das bruxas, as bruxas deviam encontrar-se e, portanto uma bruxa devia conhecer a outras. Em um segundo interrogatório perguntava-se às arguidas pelos nomes de outras bruxas ou bruxos, às vezes baixo novas torturas. Assim se alongava sempre mais a lista de suspeitas, já que, baixa tortura, sempre se acusava a mais pessoas. O resultado eram processos em corrente.
- Condenação.
- Execução. Ao delito de bruxearia correspondia-lhe morte por fogo, isto é, a fogueira, na que eram queimadas vivas. Como ato piedoso se considerava o cortar a cabeça ou afogar dantes ou pendurar um saco de pólvora ao pescoço.
Processos célebres:
- Na França, um caso muito representativo é o conhecido como o de "os demónios de Loudun" (1634), no qual o sacerdote Urbain Grandier foi acusado de bruxería pelas freiras ursulinas do convento de Loudun , localidade próxima a Poitiers . Neste caso teve claras motivações políticas, já que Grandier era um conhecido opositor ao cardeal Richelieu. O arguido morreu na fogueira depois de ter sido torturado.
- Outro caso da França foi o de Juana de Arco; arguida de bruxearia por ouvir angelicais vozes em sua cabeça, e ter visões, supostamente enviadas pelo mesmo Deus, ou por algumas virgens ou santos. Juana não foi somente acusada de heresia, senão também de blasfemia (Por negar ser uma bruxa), e lesbianismo, já que, estando presos em uma torre em Ruán, os ingleses a despojaram de suas roupas, à violaram, e a obrigaram a vestir com uma armadura de homem. Depois chamaram a um dos que cuidava sua cela, e lhe disseram que Juana tinha feito aparecer à roupa de homem com ajuda demoníaca.
- Na Inglaterra, as perseguições de bruxas mais famosas foram às levadas a cabo por Matthew Hopkins nos condados de Suffolk e Essex, entre os anos 1644 e 1646, em plena Guerra Civil Inglesa. Calcula-se que Hopkins enviou à morte a umas 200 bruxas.
- Nas colónias inglesas da América (futuros Estados Unidos), atingiu grande celebridade o caso das "bruxas de Salem" (1692), que se saldo com a execução de 25 pessoas, em sua maioria mulheres. Este caso foi levado ao teatro pelo dramaturgo Arthur Miller, em sua obra As bruxas de Salem, ou em inglês, The Crucible (1957).
- Em Friul , no norte da Itália, tiveram lugar entre os anos 1575-1580, vários processos por bruxearia a membros de uma seita conhecida como os "benandanti", que afirmavam que, enquanto dormiam, seus espíritos saíam a combater contra as bruxas. Os Benandanti consideravam-se a si mesmos bons cristãos. Suas práticas, no entanto, segundo seu principal estudioso, Carlo Ginzburg, parecem estar relacionadas com antigos ritos da fertilidade.
As vítimas:
O número total de vítimas da caça de bruxas não pode ser estabelecido de modo completamente fiável, como uma grande quantidade de atas de julgamentos se perdeu, e muitos processos não se registaram nunca de forma oficial.
Os primeiros cálculos que se fizeram eram muito exagerados, tanto porque tomavam literalmente algumas declarações dos caçadores de bruxas em que se vangloriavam do número de bruxas que tinham enviado à morte, como pela difusão, graças à literatura e depois também ao cinema, de uma imagem do fenómeno que procurava acentuar seu carácter negativo. Na atualidade existe um verdadeiro consenso, baseado nas cifras parciais de que se dispõe, em que o número total de processos na Europa para toda a Idade Moderna deveu de rondar os 110.000, que teriam produzido umas 60.000 execuções.
A questão de se as bruxas executadas eram ou não culpadas dos delitos dos que se lhes acusava é objeto de debate. Deixando aparte o fato de que muitos dos delitos que se lhes responsabilizassem, seriam impossíveis segundo as leis da Natureza, é possível que verdadeiro número de bruxas sim praticasse a magia negra, tomassem parte em reuniões noturnas e tivessem uma verdadeira intenção de danificar. Não obstante, é muito provável que a maioria das vítimas fora absolutamente inocente de praticar a magia, e sua acusação respondesse unicamente ao facto de ter sido delatadas por outros processados submetidos a tortura, ou à reação da comunidade ante um facto aparentemente inexplicável. Debate-se atualmente até que ponto algumas das atividades atribuídas às bruxas, como a assistência aos aquilhares, teve lugar em realidade, ou são produto da aplicação sistémica da tortura aos arguidos.
A imensa maioria das pessoas processadas por bruxearia foram mulheres. Na maioria das regiões da Europa, a proporção de mulheres ultrapassou o 75%, e em algumas chegou inclusive aos 90%. Isto se explica em grande parte pelo forte carácter misógino de muitos dos tratados sobre a bruxearia escritos da época (como o antes mencionado Malleus maleficarum), que consideravam às mulheres moralmente, mais débeis e presas mais fáceis para o Diabo. Muitas destas mulheres eram curandeiras, ainda que também cozinheiras e parteiras, bem como as encarregadas de cuidar meninos, foram objetos da caça de bruxas. Grande parte delas era de idade avançada, maiores de 50 anos, o que se ajusta ao estereotipo tradicional da bruxa. A maioria das mulheres acusadas de bruxearia era solteira ou viúvas, e em general pertenciam aos níveis mais baixos da sociedade.
Não quer isto dizer que todas as pessoas executadas nas caças de bruxas se ajustassem a este perfil. Muitos homens foram também ajustiçados baixo as mesmas acusações, e em algumas regiões (Espanha, por exemplo) o número de vítimas masculinas e femininas foi bastante brigado, e em outros (como na Rússia) os homens foram maioria.
Em Suíça teve dois casos nos que se acusou e se levou ante o juiz a grupos de meninos. No primeiro processo, os meninos não foram libertados até que intervieram inquisidores de Roma. No segundo, o tribunal civil obrigou aos pais a eleger entre expulsar de casa aos meninos e apresentar um certificado de sua morte ou envenenar eles mesmos a seus filhos. Parece ser que muitos pais efetivamente envenenaram aos filhos.
Sobretudo durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) causou estragos a caça de bruxas. A guerra, que se dirigia para seu ponto máximo, tinha devastado os campos, destruído as casas e decimado à população. A fome e as doenças cobravam muitas vidas. Precisamente neste tempo de guerra, muita gente suspeitava de bruxas e denunciava-as frente tribunais.
Uma das últimas mulheres acusadas de bruxearia foi Anna Schnidenwind, que foi levada a justiça em 24 de abril de 1751 em Endingen am Kaiserstuhl. Possivelmente a última morte de uma bruxa em território do Sacro Império foi em 1756 em Landshut . O 4 de abril de 1775 processou-se a Anna Schwegelin na colegiata de Kempten no Allgäu. A sentença do príncipe abad Honorius Von Schreckenstein, ao que graças a um privilégio imperial lhe correspondia sentenciar em temas religiosos e civis, não se levou a cabo por razões desconhecidas. Em Suíça, a última bruxa, Anna Göldin, foi justificada em junho de 1782.
A última morte documentada de uma bruxa em Centro Europa foi em 1793 na o Grande Ducado de Posem. Mas ainda em 1836 uma suposta bruxa foi submetida à prova da água pelos pescadores da península de Hel. Já que a bruxa não se afundava, a afogaram à força.
Distribuição geográfica:
Os territórios que sofreram com maior intensidade a caça de bruxas foram os submetidos à autoridade do Sacro Império Romano Germánico, para os quais se baralham cifras dentre 20.000 e 30.000 execuções, o que supõe uma altíssima percentagem do total (ao redor de 40%). Dentro do Império, a perseguição centrou-se fundamentalmente nos estados do sul e do oeste, em uma zona de unidades políticas muito fragmentadas, que inclui lugares como Würzburg, Bamberga, Eichstätt, Württemberg e Ellwangen, entre outros. Trata-se de estados de pequeno tamanho, que gozavam de uma alta autonomia jurisdicional: um exemplo muito significativo é a Fürtspropei de Ellwangen, um território diminuto no que foram executadas 400 pessoas só entre os anos 1611 e 1618. Os estados de maior tamanho, como Áustria, Baviera ou Bohemia, foram, em mudança, bastante mais moderados na caça de bruxas. Um território do nordeste da Alemanha que sofreu intensamente a perseguição da bruxearia foi o Ducado de Mecklemburgo, protestante, onde tiveram lugar aproximadamente 4.000 julgamentos, que causaram umas 2.000 execuções.
A Confederación Helvética foi outro dos lugares nos que se realizou uma caça de bruxas particularmente intensa. Calculou-se que dentro de suas fronteiras foram executadas umas 10.000 bruxas. Só no cantón de Vaud o número de execuções superou as 3.000 (se trata, ademais, do lugar da Europa no que se constatou uma percentagem mais alta de execuções com respeito ao total de processados (ao redor de 90%).
A perseguição foi também muito intensa em alguns territórios que nominalmente faziam parte do Império, mas que na prática gozavam de um elevado grau de autonomia: o Ducado de Lorena, o Franco Condado e os Países Baixos. Em Lorena, Nicolas Rémy enviou à morte a 800 bruxas entre 1586 e 1595, e a mais de 2.000 ao longo de toda sua carreira. Nos Países Baixos existem importantes diferenças entre aquela parte do território que estava baixo domínio espanhol, na que a caça de bruxas atingiu bastante intensidade, e os Países Baixos independentes, onde se praticou com bastante mais moderação.
Na França, o número de execuções, com ser elevado, foi significativamente menor que nos territórios do Império, ainda que a população do país galo fosse só ligeiramente menor que a do Império. Levack sugere uma cifra de ao redor de 4.000 execuções para os territórios efetivamente submetidos à autoridade real, das quais a maioria teve lugar na fase inicial da caça de bruxas, durante o século XVI. Deve ter-se em conta que na França as zonas mais afetadas pela caça de bruxas foram regiões periféricas que se distinguiam também por sua resistência ao centralismo da monarquia absoluta, o qual se explicou de duas formas: bem porque a caça de bruxas foi um modo de consolidar o poder central, bem porque a maior independência destes territórios com respeito à autoridade estatal possibilitou uma maior liberdade na atuação dos tribunais locais.
Nas Ilhas Britânicas (Inglaterra, Escócia e Irlanda) e nas colónias inglesas da América a caça de bruxas conheceu uma intensidade bastante menor que nos territórios alemães. Sua incidência foi bastante menor que nos territórios centro-europeus, e inclusive que na França. Para o conjunto destes territórios, as cifras oscilam entre as 1.500 e as 2.500 execuções. Deve destacar-se, no entanto, o caso particular da Escócia, onde teve duas grandes caças de bruxas nos períodos 1590-1592 e 1661-1662. Na Irlanda mal teve perseguições. Quanto às colónias americanas, só em Nova Inglaterra pode se falar de uma autêntica caça de bruxas, já que no resto das colónias mal teve execuções ou não se produziram em absoluto. A metade das 234 vítimas em Nova Inglaterra corresponde ao ano 1692, data dos conhecidos julgamentos de Salem.
Para Escandinávia, Levack calculado um número total de ao redor de 5.000 processos, dos quais teriam resultado entre 1.700 e 2.000 execuções. A parte do leão corresponde a Dinamarca , onde teve, segundo os cálculos mais fidedignos, um total de 2.000 processos e umas 1.000 execuções. Bastante menor foi a cifra de execuções na Suécia (umas 300), Noruega (sobre 350) e Finlândia (115), que na época fazia parte da Suécia. A incidência da caça de bruxas em Escandinávia foi bastante menor que a que teve na Europa central; é bastante superior, em mudança, à dos territórios britânicos, se temos em conta que nos países escandinavos a população era algo menos da metade que nestes.
No este da Europa, o fenómeno da caça de bruxas foi bastante tardio (a maior parte dos processos teve lugar no último terço do século XVII e o primeiro quarto do XVIII). Em linhas gerais, pode dizer-se que a maioria dos processos teve lugar em zonas fronteiriças com Alemanha, ou com uma importante população alemã. A imensa maioria das caças de bruxas dos países do este da Europa se concentrou na Polónia. Ainda que os processos da Polónia não estejam ainda bem estudados, alguns especialistas têm criptografado as execuções em 10.000, das quais a maioria corresponde à parte ocidental do reino, com uma forte influência da Alemanha, pelo que Levack se inclina a considerar a caça de bruxas na Polónia como uma extensão tardia da alemã. Em Hungria teve um total aproximado de 1.500 processos, dos quais ao menos 450 terminaram em execuções. A maior parte dos processos levaram-se a cabo no século XVIII. Quanto a Rússia, a perseguição da bruxearia parece ter-se desenvolvido à margem das teorias predominantes na Europa a respeito da associação das bruxas com o Diabo, e o número de vítimas não parece ter sido tão elevado. Algo similar ocorreu em Transilvânia e nas regiões de Valáquia e Moldávia, então baixos o domínio do Império otomano. Em linhas gerais, pode dizer-se que no Leste da Europa a incidência da caça de bruxas foi bastante menor nos territórios de religião ortodoxa. Nos territórios europeus do Império Otomano, a exceção dos casos dantes citados de Valáquia e Moldávia, não se levou a cabo caças de bruxas.
Excetuaram-se estes últimos, a zona da Europa na que teve menos execuções por bruxearia foi a região mediterrânea. Se se excluem as regiões alpinas de língua italiana, entre Itália, Espanha e Portugal (incluindo os territórios ultramarinos na América destes últimos) a cifra é muito baixa: ao redor de 500. Isto não quer dizer que a bruxearia não se perseguisse nestes territórios: o número de processos foi bastante elevado, mas a percentagem de execuções sobre pessoas encalçadas foi muito baixo. Isto significa que nos países mediterrâneos o processo de bruxearia foi tratado com bastante desprezo, à diferença do que ocorreu em outros lugares da Europa. A maioria dos delitos julgados em Espanha, por exemplo, foram castigados com penas menores. Destaca especialmente a despreza com que a inquisição levou a cabo estes julgamentos, já que a proporção de execuções em processos julgados pelo tribunal inquisitorial é bastante menor que a dos julgados por tribunais civis. Ademais, em Espanha não chegaram a existir caças em massa, com a possível exceção dos processos de Zugarramurdi (1610), nos que foi precisamente a Inquisição a que extinguiu a psicose que se tinha desencadeado pela intervenção dos tribunais ordinários.
A luta contra a caça de bruxa:
As críticas à caça de bruxas começaram praticamente ao mesmo tempo em que as perseguições da Édad Moderna. Ao princípio tinha sobretudo receios por parte dos juízes e a administração pela criação de um sistema de julgamentos extraordinários paralelo aos órgãos jurídicos estatais.
A crítica contra a superstição que representava a crença em bruxas apareceu mais tarde. Anterior à Ilustração foi o jesuíta Friedrich Spee Von Langenfeld, catedrático na Universidade Alma Ernestina em Rinteln , que escreveu Cautio Criminalis em 1631. Foi o mais influente, ainda que não o único, entre os que atacaram os processos de bruxas. Seu livro era a resposta à obra regular da teoria da bruxearia Processus juridicus contra sagas de benefícios, escrita por seu colega na universidade Hermann Goehausen em 1630.
A cura reformado Anton Praetorius, predicador no corte do Príncipe em Birstein, comprometeu-se em 1597 com a causa das bruxas e manifestou-se por sua libertação. Atacou de tal forma aos torturadores que paralisou o processo e a última presa que seguia viva foi liberta. É o único caso documentado no que um religioso tenha conseguido paralisar um processo e a tortura a uma bruxa. Nas atas aparece em antigo alemão porque o cura local opôs-se de forma contundente que se torture as mulheres, se abandonou desta vez.
Como primeira cura reformado, Praetorius publicou baixo o nome de seu filho Johannes Scultetus em 1598 o livro Von Zauberey vnd Zauberern Gründlicher Bericht (Relatório exaustivo de magia e magos) contra a loucura da caça de bruxas e as torturas desumanas. Em 1602 atreveu-se a pôr seu próprio nome na segunda edição. Em 1613 apareceu a terceira edição com um prefacio escrito por ele.
Em 1635, o cura Johann Matthäus Meyfart, catedrático na faculdade de Teologia luterana de Érfurt , opôs-se à caça de bruxas e à tortura com seu livro Christliche Erinnerung, An Gewaltige Regenten, vnd Gewissenhaffte Praedicanten, wie dás abscheuwliche Laster der Hexerey mit Ernst außzurotten, aber in Verfolgung desselbingen auff Cantzeln vnd in Gerichtsheusern sehr bescheidlich zu handeln sey (Lembrança cristã a poderosos regentes e predicadores com consciência de como eliminar em sério a falta da bruxearia, mas cuja perseguição em chancelarias e julgados deve ser manejada com modéstia).
O Hochnötige Unterthanige Wemütige Klage Der Frommen Unschültigen (Muito necessária e sumia lamentação dos piedosos inocentes) de Hermann Löher editou-se em 1676, ao finalizar a onda mais dura da perseguição. É relevante porque o autor exerceu nas décadas de 1620 e 1630 como voluntário no sistema de perseguição e através dessa experiência chegou a opor à caça das bruxas. Por isso dá a visão desde dentro do processo e as lutas de poder que o acompanha, o que não se encontra em textos de outros opositores.
Em 1700, quando os processos a bruxas já se tinham facto escassos, o estudioso de Ache Christian Thomasius publica seus escritos contra a crença em bruxas. No entanto, o conhecido médico Friedrich Hoffmann também de Ache estava convencido ainda a princípios do século XVIII na possibilidade de que bruxas pudessem causar doenças com encantamentos, em relação aos poderes sobrenaturais que lhes dava o Demónio.
Historiografia:
A caça de bruxas tem sido tratada uma e outra vez tanto nos círculos de historiadores como nos políticos.
Durante o Kulturkampf (luta cultural) dos prussianos acusou-se à igreja católica como única culpada da perseguição das bruxas e se dava como número de mortos 9 milhões, cifra a todas luzes exagerada.
Durante o Terceiro Reich, a NSDAP e outros estamentos estimulavam os estudos sobre a bruxearia. Tentava-se converter às bruxas em representantes da primitiva religião germana, que tinha sido atacada pela Igreja. Mas, sobretudo nas SS, formou-se um núcleo de oposição, para o que as bruxas eram Volksschädlinge, parasitas sociais, que tinham sido eliminadas por uma une de homens com a que se identificavam eles mesmos.
Baixo o manto do feminismo tratou-se o tema de forma intensa na década de 1980. No século XXI, o estudo histórico centra-se principalmente na história local e regional do fenómeno.
A caça de bruxas na atualidade:
Também em regiões não cristãs ou que têm sido cristianizadas recentemente aparece uma e outra vez a perseguição de bruxas, a bruxearia ou da magia.
Têm saltado à atualidade os casos dos meninos bruxos do Congo. No norte de África do Sul, sobretudo em regiões de religiões tradicionais, acusa-se a cada ano a centos de homens e mulheres de, bruxearia pessoas que são com frequência assassinadas pelas massas enfurecidas. Em Tanzânia acusa-se a cada ano a centos de mulheres de brejeira, que são assassinadas ou mutiladas. O caso também se dá em Quênia. Em alguns estados africanos existem inclusive leis específicas contra a bruxearia.
Também se conhecem casos de caça de bruxas em América do Sul.
Em México e em alguns outros países Latino-americanos o termo "Caçada de Bruxas" utiliza-se de maneira coloquial e popular ao referir-se à especial observação de uma ou várias pessoas com o fim de detalhar suas atividades com o objetivo de mostrar alguma falha referente a alguma temática em particular, sem que isto signifique algum tipo de atividade em bruxearia. O uso deste termo deve-se à influência estadunidense referente ao Macarthismo.
BRUXAS ERAM AS MÉDICAS DOS POBRES DO PASSADO, E NAS PESTES QUE OUVE POR FALTA DE BRUXAS A MORTANDADE AUMENTOU E O DEUS DO MAL SE CONSOLOU, MALDITAS RELIGIÕES
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