sábado, 25 de dezembro de 2010

Sabedoria

Que dizem viajantes de estações, países?
Colheste ao menos tédio, já que está maduro,
Tu, que vejo a fumar charutos infelizes,
Projetando uma sombra absurda contra o muro?

Também o olhar está morto desde as aventuras,
Tens sempre a mesma cara e teu luto é igual:
Como através dos mastros se vislumbra a lua,
Como o antigo mar sob o mais jovem sol,

Ou como um cemitério de túmulos recentes.
Mas fala-nos, vá lá, de histórias pressentidas,
Dessas desilusões choradas pelas correntes,
Dos nojos como insípidos recém-nascidos.

Fala da luz de gás, das mulheres, do infinito
Horror do mal, do feio em todos os caminhos
E fala-nos do Amor e também da Política
Com o sangue desonrado em mãos sujas de tinta.

E, sobretudo não te esqueças de ti mesmo,
Arrastando a fraqueza e a simplicidade
Em lugares onde há lutas e amores, a esmo,
De maneira tão triste e louca, na verdade!

Foi já bem castigada essa inocência grave?
Que achas? É duro o homem; e a mulher? E os choros,
Quem os bebeu? E que alma capaz de contá-los
Consola isso a que podes chamar tuas dores?

Ah, os outros, ah, tu! Crendo em vãos lisonjeiros,
Tu que sonhavas (e era também demasiado)
Com qualquer morte suave e ligeira!
Ah, tu, que espécie de anjo sempre amedrontado!

Mas que intenções, que planos? Terás energia
Ou o choro destemperou esse teu coração?
A julgar pela casca, é uma árvore macia
E os teus ares não parecem de vencedor, não.

Tão desastrado ainda! E com a agravante inútil
De seres cada vez mais um sonolento idílico
A fitar pela janela o céu sempre tão estúpido
Sob o astuto olhar do diabo do meio-dia.

Sempre o mesmo na tua extrema decadência!
Ah! — Mas no teu lugar, e assumindo as culpas,
Um ser sensato quer impor outra cadência
Com o risco de alarmar um pouco os transeuntes.

Não terás, vasculhando os recantos da alma,
Um vício pra mostrar, qual sabre à luz do dia,
Algum vício risonho, descarado, que arda
E vibre dardejante, sob o céu carmim?

Um ou mais? Se os tiveres, será melhor! E parte
para guerra e briga a torto e a direito, sem
Escolher ninguém e enverga a indolente máscara
Do ódio insaciado, mas farto também...

Não devemos ser tolos neste alegre mundo
Onde a felicidade não é saborosa
Se nela não vibrar algo perverso, imundo,
E quem não quer ser tolo tem de ser maldoso.

— Sabedoria humana, eu ligo a outras coisas
E, de entre esse passado de que descrevias
O tédio, em conselhos ainda mais penosos,
Só consegue lembrar-me, hoje, do mal que fiz.

Em todos os estranhos passos desta vida,
Dos lugares e dos tempos, ou também dos meus
«Azares», de mim, dos outros, da estrada seguida,
Sempre retive apenas a graça de Deus.

Se me sinto punido, é porque o devo ser.
O homem e a mulher não estão aqui em vão.
Mas espero que um dia possa conhecer
O perdão e a paz que aguardam os cristãos.

É bom não sermos tansos neste mundo efêmero,
Mas pra que o não seja na eternidade,
O que é mais necessário que reine e governe
Nunca é a maldade, mas sim a bondade.

Autor: Paul Verlaine

Um comentário:

  1. ola amizade belicismo texto
    confesso que não sei de todo comentar este texto mas tem muito sentido somos todos enfermos
    enquanto vivos
    a bondade é um dom mais que especial que pode um ser humano ter dentro de si
    acreditar amar não julgar ,
    bom ano 2011 para ti e familiares felicidades
    beijinho

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