O menino prodígio do heavy metal realmente não pára. Tudo bem, podem dizer que Tobias Sammet, vocalista e compositor do EDGUY, criou o projeto paralelo AVANTASIA de maneira despretensiosa, apenas para trabalhar ao lado de seus grandes heróis musicais. Se ele o fez, parabéns, pois o fez de maneira brilhante, dando uma verdadeira sacudida no combalido mundinho do metal melódico/power metal com as duas partes de sua “Metal Opera”. Com o terceiro disco, “The Scarecrow”, Tobias manteve a potente máquina de hits ligada, mas, desta vez, apontando em uma direção mais hard rock, o que enfureceu parte de seus admiradores. Sinceramente, Tobias não parecia estar ligando – e está certíssimo, aliás.
Site ofcial: www.tobiassammet.com/Seja fazendo hard rock ou heavy metal - queira dar você o nome que bem entender -, o sujeito já provou que faz bem, transformando tanto baladas, quanto porradas, em canções que você não consegue parar de cantar junto. Os recém-lançados “The Wicked Symphony” e “Angel of Babylon” – respectivamente as partes 2 e 3 da história iniciada em “The Scarecrow” -, seguem a mesma trilha de qualidade do anterior. A pegada ainda é mais hard, mas digamos que Mr. Sammet revisita a fúria de aspiração power de algumas faixas dos “Metal Opera”, só para mostrar que continua com a mão afiada.
Em tempo: optei por escrever sobre os dois discos justamente porque, apesar de terem sido lançados como obras distintas, e funcionarem muito bem desta forma, eles se encaixam e complementam de tal maneira que, no final, a experiência se torna mais rica quando se ouve os dois na sequência. Em termos de história, novamente ponto para o autor, ele evitou o tom excessivamente didático dos dois “Metal Opera”, que traziam a descrição quase cronológica da trama nos encartes, relacionando-as com as canções. Não tem necessidade. Aqui, você só precisa saber que Tobias nos apresenta sua versão pessoal para o “Fausto”, de Goethe, com um músico que desaba em seu próprio inferno pessoal por conta de um grande amor. Isso já basta. O resto você conclui sozinho, ligando os pontos ao ouvir as letras. Não vamos subestimar a inteligência de nossos ouvintes, não é mesmo?Entre os convidados especiais inéditos, destaque para a performance do gordinho Jon Oliva (Savatage) na sublime “Death is Just a Feeling” (de “Angel of Babylon”), na qual ele interpreta de maneira totalmente teatral, dando um clima de musical tétrico e sombrio ao qual, obviamente, o próprio músico está acostumado no Trans-Siberian Orchestra. Já em “The Wicked Symphony”, o dueto de Tobias com Klaus Meine soa 100% Scorpions na radiofônica “Dying for an Angel”, enquanto Tim "Ripper" Owens imprime uma dose extra de potência e agressividade em "Scales of Justice", com direito até a guitarras dobradas em homenagem descarada ao Judas Priest. Também construída na medida certa para a voz do cantor convidado é “Wastelands”, que repete a fórmula de “Shelter from the Rain” e entrega para o parceiro frequente, Michael Kiske, uma canção que é tipicamente Helloween, de sua fase mais feliz e positiva.
No entanto, é preciso dizer quem rouba a cena mais uma vez: é o fenomenal cantor norueguês Jorn Lande, possivelmente uma das mais empolgantes vozes do metal atualmente. Seja cantando acompanhado ou mesmo desempenhando seu papel em uma faixa solo – como na avassaladora “Forever is a Long Time” -, Lande domina o disco quando entra em cena. Não sobra pra mais absolutamente ninguém. Ambos os discos são abertos por faixas épicas, bombásticas, com a participação de boa parte dos convidados usuais – a faixa-título de “The Wicked Symphony” e “Stargazers” em “Angel of Babylon”. E, nas duas, Lande deixa no chinelo o próprio Tobias, além de Russell Allen (Symphony X) e o gogó de ouro Kiske, misturando ecos de David Coverdale e Ronnie James Dio na interpretação de seu personagem com ares meio demoníacos.
Em “Symphony of Life” (Angel of Babylon), pela primeiríssima vez desde o início do Avantasia, Tobias abre mão de cantar em uma das faixas, deixando o trabalho inteiramente para a semi-desconhecida Cloudy Yang. Com um timbre de inspiração pop, a dona da principal canção feminina de ambos os discos se sai muito bem, interpretando uma porrada a la Nightwish, bem melhor do que tudo que o próprio Nightwish vem fazendo recentemente. Por falar em pop, também em “Angel of Babylon”, uma grata surpresa é a deliciosa “Alone I Remember”. A canção tem ares de um hard rock light bem anos 80, com um refrão que poderia facilmente ser usado nos comerciais daquela marca de cigarros que popularizou, por aqui, Van Halen, Bon Jovi, Asia, Toto, Kansas e Survivor, entre outras bandas. Nas guitarras, ninguém menos do que Bruce Kulick, um dos ases das cordas no Kiss.
Por falar no Kiss, aliás, o atual baterista da banda, Eric Singer, é um dos destaques da faixa mais peculiar da história do Avantasia: “Crestfallen”, de “The Wicked Symphony”. A guitarra tem uma pegada tão furiosa que, em alguns momentos, chega a soar thrash. Nos vocais, Tobias grita de forma surpreendentemente agressiva. Só que repare bem na melodia eletrônica que abre a canção e que dá o tom ao longo de toda a execução. Bingo. Tem uma improvável levadinha bossa nova. Em um disco do Avantasia? Genial.
Quem dera todo fã de rock celebrasse suas influências e seus grandes ídolos com tamanho talento. E que venha (logo) a próxima saga, saída da gloriosamente perturbada cabeça de Tobias Sammet.
Line-Up Fixo:
Tobias Sammet – Vocal/Baixo
Sascha Paeth – Guitarra
Michael "Miro" Rodenberg – Teclado/Orquestrações
Eric Singer – Bateria
Tracklist:
THE WICKED SYMPHONY
01. The Wicked Symphony
02. Wastelands
03. Scales of Justice
04. Dying For An Angel
05. Blizzard On A Broken Mirror
06. Runaway Train
07. Crestfallen
08. Forever Is A Long Time
09. Black Wings
10. States of Matter
11. The Edge
ANGEL OF BABYLON
01. Stargazers
02. Angel of Babylon
03. Your Love Is Evil
04. Death Is Just A Feeling
05. Rat Race
06. Down In The Dark
07. Blowing Out The Flame
08. Symphony of Life
09. Alone I Remember
10. Promised Land
11. Journey To Arcadia
Nenhum comentário:
Postar um comentário