segunda-feira, 31 de maio de 2010

Rio Sombrio


Fio de sangue brota de fonte oculta
Dilacerada, açoitada na pedra
De fértil nascente pura
Luzente, fado promissor,
Se metamorfoseou!
Brota sangue.
Ferido, intoxicado,
Poluído de verdadeiras, ilusões,
Criadas, imaginadas, num Ego pestilento,
Nutridas com o alimento da paixão.
Corre rio sombrio
Num vale onde o Sol é vadio.
Aparece, foge na encruzilhada
Nas voltas da Gaia sofrida
No sentir do rio enegrecido.
Moléculas absorvem Luz
O rosáceo começa a abalar
Na Foz, longínqua, avistada,
A ferida sarará,
O sangue nas artérias correrá,
Rio sadio fluirá.

"Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma coisa só - a inteira - cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma de um caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa pauta cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar?
Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo".

Tarja Turunem ( What Lies Beneath )


Via Twitter, Tarja Turunem disponibilizou um teaser de seu novo álbum solo, intitulado "What Lies Beneath". O vídeo pode ser assistido abaixo.
 


terça-feira, 25 de maio de 2010

Na minha pele

                                   
Eu sinto mais do que eu devia sentir
Eu penso mais do que eu devia pensar
Mas não posso dizer que eu não sou feliz
Eu não posso dizer que eu não queria estar aqui
Pois aqui
Aqui você está
E onde você estiver
É o meu lugar
Eu quero mais do que eu devia querer
Eu sofro mais do que eu devia sofrer
Mas não posso dizer que eu não sou feliz
Eu não posso dizer que eu não queria estar aqui
Pois aqui
Aqui você está
E onde você estiver
É o meu lugar
E se eu pudesse fazer
O mundo inteiro entender
O quanto é difícil ser eu
Ninguém iria falar
Quero estar no seu lugar
Aqui na minha pele
Pois aqui
Aqui você está
E onde você estiver
É o meu lugar...
Libra- Até que a morte não separe

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A pintura gótica


A pintura gótica, uma das expressões da arte gótica, apareceu apenas em 1200 ou quase 50 anos depois do início da arquitetura e escultura góticas. A transição do românico para gótico é bastante imprecisa e não uma quebra definida, mas pode-se perceber o início de um estilo mais sombrio e emotivo que o do período anterior. Esta transição ocorre primeiro em Inglaterra e França cerca de 1200, na Alemanha cerca de 1220 e na Itália cerca de 1300.
A característica mais evidente da arte gótica é um naturalismo cada vez maior. Essa qualidade, que surge pela primeira vez na obra dos artistas italianos de fins do século XIII, marcou o estilo dominante na pintura européia até o término do século XV. O período gótico estendeu-se por mais de duzentos anos, surgindo na Itália e disseminando-se para o resto da Europa. Os italianos foram os primeiros a utilizar o termo gótico, indicando pejorativamente a arte que se produziu na Renascença tardia, mas que ainda seguia um estilo medieval. Era uma referência ao passado bárbaro, em especial aos godos. A palavra perdeu o tem depreciativo e passou a designar o período artístico entre o românico e o Renascimento. A arte gótica pertence sobre tudo aos últimos três séculos da Idade Média.
A pintura (a representação de imagens numa superfície) durante o período gótico era praticada em quatro principais ofícios: afrescos, painéis, iluminura de manuscritos e vitrais. Os afrescos continuaram a ser utilizados como o principal ofício pictográfico narrativo nas paredes de igrejas no sul da Europa como continuação de antigas tradições cristãs e românicas. No norte, os vitrais foram os mais difundidos até ao século XV. A pintura de painéis começou na Itália no século XIII e espalhou-se pela Europa, tornando-se a forma dominante no século XV, ultrapassando mesmo os vitrais. A iluminura de manuscritos representa o mais completo registro da pintura gótica, fornecendo um registro de estilos em locais onde não sobreviveu nenhum outro trabalho. A pintura a óleo em lona não se tornou popular até aos séculos XV e XVI e foi um dos ofícios característicos da arte renascentista.
No começo do período gótico, a arte era produzida principalmente com fins religiosos. Muitas pinturas eram recursos didáticos que faziam o cristianismo visível para uma população analfabeta; outras eram expostas como ícones, para intensificar a contemplação e a prece. Os primeiros mestres do gótico preservaram a memória da tradição bizantina, mas também criaram figuras persuasivas, com perspectiva e com um maravilhoso apuro no traço.
Apocalipse, Velho Testamento, a infância de Jesus Cristo, Virgem Maria, a Paixão e o Último Julgamento estão entre os temas da pintura do período que veio a ser designado por gótico. A arte mural daqueles tempos, consideravelmente desvalorizada em função da tendência de integração entre a arquitetura das catedrais e a escultura, veio a se desenvolver mais ao Sul da Europa, principalmente na Itália, o primeiro país a privilegiar os exercícios de perspectiva.
Enquanto na França e em regiões próximas à Península Ibérica a arte pictórica é influenciada pelas miniaturas francesa e inglesa, os artistas italianos já estavam buscando soluções para o problema do espaço entre as construções e a arte mural.



Giotto, detalhe do afresco Les Démons Chassés d'Arezzo. Anterior a 1300. Assise, Igreja Superior de Saint-François.



A pintura da era das catedrais góticas é subdividida em períodos: o primeiro era caracterizado como linear; seguido pelo estilo bizantino da escola de Siena; pelo de influências italianas; depois o internacional; e, por último, de predomínio do borgonhês e do flamengo.
Ao fim do século XII e durante o XIV surgiram nas cidades italianas de Siena e Florença as escolas de pintura mais famosas. A primeira, que teve como fundador Duccio di Buoninsegna, era mais conservadora e fiel às formas bizantinas que, entretanto, foram substituídas por figuras menos solenes.
As pinturas da escola de Siena apresentavam grande devoção pela figura da Virgem Maria, tema recorrente na arte da cidade, da decoração da catedral iniciada por Giovanni Pisano, por volta de 1284, à majestade (Maestà) elaborda por Duccio e seu aluno, Simone Martini. Ainda no século XIV, os irmãos Pietro e Ambrogio Lorenzetti foram os últimos representantes da escola de Siena,
O período posterior, de influências italianas, foi visível na escola de Florença, que pouco privilegiava o misticismo e se mostrava mais preocupada com o realismo das obras. Giovanni Cimabue e Giotto di Bondone (1266-1336) foram os representantes desta fase da pintura gótica.

A obra principal de Giotto di Bondone, Joaquim expulso do Templo, está na Capela dos Scrovegni, em Pádua. Neste trabalho o artista procurou dar uma conotação realista e para tanto evitou os arabescos e a estilização. Após seu falecimento, a escola florentina mostrou-se incapaz em dar continuidade aos avanços iniciados por este artista, que perseguiu incessantemente o realismo. Assim, ao final do século XIV, houve um retorno ao estilo de Siena e as escolas européias de pintura apresentavam estilos quase idênticos.
Em razão desta similaridade, os historiadores denominam esta fase como gótico internacional. As pinturas deste período são caracterizadas pela influência das cores vivas nas iluminuras góticas.
O padrão estético burguês
As cortes européias preferiam a contemplação de uma realidade exótica, contrastante e detalhista. Tal ânsia pela ornamentação foi visível na pintura flamenga, própria dos Países Baixos, durante o século XV. Muitas das obras flamengas já apresentavam linhas que se aproximavam às leis de perspectiva do Renascimento.

Jan van Eyck, O Casal Arnolfini, 1434. Galeria Nacional de Londres.


Jan Van Eyck aperfeiçoou a técnica da pintura a óleo. Como resultado, os trabalhos ganharam detalhes nunca vistos anteriormente. A burguesia era a principal impulsionadora da escola flamenga e por esta razão os pintores voltaram-se para a elaboração de retratos, como O Casal Arnolfini, de 1434.
Curiosamente, há autores que chegam a estabelecer comparações entre certas obras daqueles tempos e o Expressionismo, corrente do século XX que, ao contrário da arte gótica, se influenciou pelas manifestações artísticas de outros continentes, além de ter criticado as tradições, a burguesia, a autoridade, buscando assim a dessacralização de mitos.
Everard M. Upjohn, no segundo volume do livro História Mundial da Arte, que aborda as manifestações artísticas dos etruscos ao fim da Idade Média, vê a obra A Crucificação, de Martin Schongauer, como uma preciosidade em termos de expressionismo genuinamente alemão.
De acordo com o autor, a obra de Schongauer, alheia ao estilo retratista burguês, fornece uma dimensão pessoal ao realismo, em virtude de sua busca pela intensidade. A singularidade do artista também pode ser conferida na gravura A Tentação de Santo Antônio.
 
Convém salientar que o autor percebe tal semelhança em um sentido amplo. Do mesmo modo, referências heterogêneas como as máscaras dos rituais africanos, a arte pré-colombiana, as esculturas góticas, as pinturas de Hieromymus Bosch, Goya e Van Gogh já foram agrupadas em um mesmo quadro de referências por outros pesquisadores.
Die Brücke (A Ponte), um dos principais grupos expressionistas, apresentou um sincretismo entre as artes africana e indígena, somado à recuperação do gótico medieval. Tal influência também se fez presente em outro grupo expressionista, o Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul). No ano de 1912, o pintor Franz Marc anunciava, no prospecto inaugural do almanaque homônimo: "trata do mais recente movimento pictórico na França, Alemanha e Rússia e mostra os seus sutis fios de ligação com o gótico e os primitivos, com a África e o Grande Oriente (...)".
Para finalizar, há discussões em torno das obras de diversos pintores dos estilos gótico e renascentista, referentes à melhor classificação para as mesmas. Boa parte das obras do quattrocento integra o gótico tardio, mas apenas um seleto grupo de autores, a exemplo de Arnold Hauser e Everard M. Upjohn, menciona esse prolongamento do gótico inspirado no gosto burguês.
Os artistas do "quattrocento" costumam ser divididos em dois grupos: inovadores e conservadores. Os primeiros estavam interessados na perspectiva, na anatomia humana e animal, enquanto que o segundo grupo preocupava-se mais com a composição do quadro.
Natural de Florença, o tradicionalista Sandro Botticelli (1444-1510), autor de pinturas célebres como O Nascimento da Vênus e A Primavera, participou do círculo intelectual da corte de Lourenço de Médice e não levava tão em conta o interesse dos florentinos pelo volume, a menos que pudesse exprimi-lo pelo traço.

Primórdios do gótico


Beijo de Judas, de Giotto.
A pintura gótica teve início na Itália. Só em fins do século XII o estilo gótico apareceu em pinturas e painéis de Florença e Siena. Ele demonstrava mais realismo do que o encontrado na arte românica e na arte bizantina, caracterizando uma fuga da chamada maniera greca, que dominava a Itália, para um estilo mais real. Havia fascínio pela perspectiva e pela ilusão de criar espaços que pareciam reais, com figuras menos rígidas e estilizadas. Há também um interesse pela narrativa pictórica e uma espiritualidade intensificada.

Escola sienesa 

O pintor sienense Duccio também se afastou da bidimensionalidade bizantina, ainda que tenha sido fortemente influenciado por ela. Nos séculos XIII e XIV, a cidade de Siena competia com Florença no esplendor de suas artes. A maior obra de Duccio foi a Maestà (ainda que nem toda a obra tenha sido executada pelo artista), encontrada na catedral de Siena em 1308 e ali instalada em 1311. Posteriormente, a obra foi desmantelada e vendida, em parte porque não a apreciavam mais. Como conseqüência, há painéis da Maestà em diversas partes do mundo, como Washington, DC, Nova York e Londres. A Maestà foi pintada dos dois lados; a face anterior tinha três partes. Embora a face anterior da Maestà revele fortes laços com a tradição bizantina, a influência da Europa Setentrional pode ser vista nas formas graciosas e ondulantes das figuras. Duccio recebeu essa influência de segunda mão, por intermédio das esculturas de Nicola Pisano e Giovanni Pisano.O artista mais puramente gótico de Siena era Simone Martini. Ele, um dos pintores sienenses, é o único que pode ter rivalizado com Duccio. Sua arte ainda mantinha laços com a tradição bizantina da espiritualidade remota, mas reconhecia o apurado estilo gótico norte-europeu (representado pela França) que naquela época era bem popular em Siena. Em 1266, um dos ramos da Casa Anjou estabeleceu uma corte em Nápoles e Simone foi chamado para pintar uma obra encomendada pelo Rei Roberto, o Sábio. Simone foi o artista definitivo do estilo gótico-italiano e um dos primeiros expoentes do gótico internacional.

 Escola florentina
O mais proeminente artista de Florença no final do século XII era Cimabue, que acredita-se ter sido o professor de Giotto. Ele era um artista do estilo bizantino, mas libertou-se da bidimensionalidade, avançando para o realismo. Sua obra mais conhecida é a Maestà, que estava no altar da igreja de Santa Trinità, em Florença. Cimabue foi um dos grandes mestres do Docento.
Enquanto Duccio reinterpretava a arte bizantina em Siena, seu contemporâneo fiorentino, Giotto  a transformou. O revolucionário tratamento que dava à forma e o modo como representava realisticamente o espaço, introduzindo a tridimensionalidade, assinalaram um grande passo na história da pintura. A pintura gótica chegou a seu ápice na Itália com Giotto. Ele foi para Roma em 1330 e pintou um afresco no palácio de Latrão. O artista compreendeu as inovações de Pietro Cavallini, o artista local cujos vigorosos e belos afrescos e mosaicos mostram um domínio do naturalismo, seguindo a tradição da arte romana e da arte paleocristã. A Cappella degli Scrovegni, em Pádua, está adornada com a maior das obras de Giotto que chegaram até nós: um ciclo de afrescos pintados por volta de 1305-1306 para mostrar cenas da vida da Virgem e da Paixão. Outra obra importante foi a ciclo com a vida de São Francisco de Assis. Giotto tinha um grande poder de organizar a agitação de uma cena em torno de uma imagem central, como vemos em sua mais famosa obra, O Beijo de Judas.
Se Simone Martini é discípulo de Duccio, então os irmãos Lorenzetti, (Pietro Lorenzetti e Ambrogio Lorenzetti) trazem a marca de Giotto. Ambos os irmãos morreram subitamente em 1348, tendo sido vítimas prováveis da Peste Negra. Entre as paisagens executadas nesses período, a obra-prima que constitui o direito de Ambrogio à fama é o afresco que representa os Efeitos do bom governo na cidade e no campo, encomendado para o interior do Palazzo Pubblico de Siena. Era a primeira tentativa de mostrar um cenário real com habitantes reais.
A Peste Negra afetou profundamente Florença e Siena. Sua versão mais impressionante é um afresco executado em 1350 no Camposanto, o cemitério junto à catedral de Pisa. Essa obra, atribuída a Francesco Traini, reproduz fragmentos dramáticos. Um incêndio, em 1944, danificou o afresco, que teve de ser retirado. Com a remoção, pôde-se ver a técnica usada para a elaboração da obra, o sinopie.
Pode-se dizer, em termos gerais, que aos Primórdios do Gótico corresponde a época do Trecento na arte italiana.

Gótico internacional


 A Adoração dos Magos, Gentile da Fabriano.


Em fins do século XIV, a fusão da arte italiana e norte-européia já resultara no desenvolvimento do estilo gótico internacional. Destacados artistas viajaram da Itália para a França e vice-versa e por toda a Europa. Idéias foram disseminadas e combinadas, até que obras nesse estilo surgiram na França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Áustria e Boêmia. O centro dessa grande fusão cultural foi a Corte de Avignon.
Um exemplo clássico do estilo verdadeiramente internacional é o Díptico Wilton, que hoje está na National Gallery, de Londres. A obra pode ter sido pintada em qualquer época durante o reinado de Ricardo II de Inglaterra. Não há consenso sobre a nacionalidade do artista, o que marca profundamente o Gótico Internacional.
No início do século XV, a antiga arte da iluminura ainda era a forma de pintura que prelavescia na França. Ela chegou a novas culminâncias na obra dos Irmãos Limbourg: Pol, Herman e Jean. Eles vinham da Guéldria, uma província dos Países Baixos, mas trabalhavam na França. Sua obra-prima conjunta dos Limbourg, o Livro das Horas, ou As Três Riquíssimas Horas, foi encomendada por um abastado colecionador de manuscritos, o Duque de Berry. Ela pertence a um gênero de livro de orações ilustrado, os chamados livros de horas. As horas eram preces a serem ditas em uma das sete horas canônicas do dia. O livro incluíam também um calendário. A obra estava incompleta quando os artistas morreram, provavelmente devido à Peste Negra. Cada um dos meses é ilustrado, que, em geral, reproduz cenas da estação.
O gótico internacional também é exemplificado por Gentile da Fabriano. A maioria de suas obras não chegou até nós. Das que perduraram, a mais extraordinária é A Adoração dos Magos, encomendada por Palla Strozzi, o homem mais rico de Florença, para a igreja da Santa Trinità. A mesma luminosidade de Gentile pode também ser vista em outro artista e medalhista italiano Antonio Pisanello. Vários de seus afrescos foram recentemente descobertos em Mântua.
Algumas obras da arte gótica mostram o impacto da Peste Negra. Esta epidemia, que hoje se acredita ter sido a peste bubônica, devastou a Europa, entre 1347 e 1351. À época, muitos a consideravam um castigo de Deus. Artistas como o Mestre das Horas de Rohan espalhavam em suas obras o interesse pela morte e pela sentença divina. No mesmo período, outros exemplos do gótico internacional não parecem afetados pela Peste Negra, como nas obras do mestre sienense Sassetta. Durante toda a vida de Sassetta, os sienenses tiveram uma existência tranqüila sob um governo republicano e Siena pôde rivalizar com Florença nas artes.
Outro importante artista do gótico internacional foi Melchior Broederlam, um flamengo que trabalhou para a corte do duque de Borgonha, em Dijon. Seus painéis apresentam as características do gótico internacional: a qualidade pictórica suave e seu realismo de pormenor.

Gótico no Norte da Europa Pintura gótica tardia:

 






Crucificação, de Matthias Grünewald.

Gerard David, Hieronymus Bosch e Matthias Grünewald eram todos pintores quinhentistas e contemporâneos de artistas setentrionais como Albrecht Dürer, Lucas Cranach e Hans Holbein. As obras dos primeiros preservam vínculos com a tradição gótica, ao passo que os últimos sofreram forte influência da Renascença italiana. Assim, duas vertentes, a arte gótica e a arte renascentista, coexistiram no norte da Europa na primeira metade do século XVI.
Gerard David foi o sucessor de Memling em Bruges e foi um artista bem-sucedido. O estilo característico dos Países Baixos chega ao auge em sua obra. O pintor Hieronymus Bosch fica à parte. Tinha um estilo inigualável e seu simbolismo permanece vívido ainda hoje. Bosch expressa as ansiedades de uma época de convulsão social e política. Bosch é célebre por suas obras fantásticas e misteriosas. O rei espanhol Felipe II era admirador de sua obra e formou uma coleção de pinturas do artista.
A última florescência do gótico se deu com Matthias Grünewald. Talvez tenha sido contemporâneo de Albrecht Dürer. Nenhum outro pintor expôs de forma tão terrível o sofrimento e a certeza da salvação. Sua obra maior, o Retábulo de Issenheim, que se encontra em Colmar, na Alsácia, foi encomendado pelo mosteiro de Issenheim e deveria servir de consolo aos pacientes do hospital. Em Grünewald, a arte gótica alcançou uma grandeza eletrizante.

Outras manifestações da pintura gótica


Vitral na Catedral de Chartres.

Vitrais

A arquitetura gótica fez surgir o interesse pelos vitrais. O Abade Suger de Saint-Denis sublinhava sempre o efeito miraculoso produzido pelos janelões nas igrejas góticas, como em Saint-Denis e na Catedral de Chartres. Com o tempo, o vitral passou a ocupar o lugar da iluminura, como forma pictural dominante. O majestoso Habacuc, na Catedral de Bruges, em uma das janelas da série com profetas no Velho Testamento, está diretamente ligado ao estilo de Nicholas de Verdun. A construção dos vitrais requeria um planejamento metódico dos projetos, para o qual não havia precendentes na pintura românica. Os procedimentos de construção de vitrais podem ser estudados em parte na obra de Villard de Honnecourt, arquiteto quetrabalhou em 1240. O período de 1200 a 1250 pode ser considerado a idade de ouro dos vitrais. Com o tempo, a iluminura recuperou seu espaço. Entretando, sua elaboração foi profundamente influenciada pelo vitral e pela escultura em pedra.

Iluminuras

Nas novas iluminuras, como no Saltério de São Luís, verifica-se a preocupação com o enquadramento, muito parecido com o dos vitrais. Até o século XIII, a produção das iluminuras estava confinada aos mosteiros. Então, pouco a pouco, a produção é transferida para as oficinas urbanas, criando-se uma arte profana. Alguns membros dessa nova linhagem de iluminadores é conhecida, como o Mestre Honoré, que, em 1295, pintou as miniaturas do Livro das Horas, de Filipe, o Belo.
As iluminuras ao norte dos Alpes forma muito influenciadas pelos grandes mestres italianos, como Duccio. As drôleries são um traço característico da iluminura gótica setentrional. Seu repertório abrange uma vasta gama de motivos: a fantasia, a fábula, o humor grotesco, etc.

domingo, 23 de maio de 2010

As duas digo só queria amar


                  
Nunca será o mar que deixará límpida minha alma
Confesso que tenho objecções para tal profecia
A profecia da alma
Será tal energia, luz, espectro, simples coisa passageira...

Que seja tu então minha companheira devaneia
Ao menos seja companheira?
Não carregue apenas meu espírito, não tenhas
Apenas tal missão finita

De meus amores, tive atenção passageira
Paixão maldita, sempre prisioneira
Dos que me amam verdadeiro, não quero deixar tal sofrimento
Merecem ao menos tal brilho de meu sorriso passageiro

Será a mente mais poderosa que tu “minha alma”
Será ela inteligente, que te enganas alma querida
Afinal quem sou eu nesta guerra sem fim?
Corpo passageiro? Ou seu hospedeiro?

Digo-te do fundo de ti, ou do meu mais lúcido pensamento
A ti “mente” também não descontento
Falarei então para as duas...
Carreguem comigo cada lágrima

Cada tristeza, cada desamor, cada dor da paixão destruída
Para as duas lhes digo que conheço cada dor que o meu mundo
Tempestuoso me ensinou a reconhecer, mas muito não me interessa entender
Mas a dor de ver meus "anjos" a me apunhalar e não mais poder amar

Esta não consigo vencer, embora possa certas vezes entender
Desta desilusão, tenho certeza lá vocês estavam a me acompanhar
Sei que um amor verdadeiro nem uma poderá me dar
Só peço as duas que me tornem forte

Para que um dia, se a tempestade me guiar
Aos braços de quem aceite possa me confortar
De quem comigo voe sem findar
E possa infinitamente demonstrar a ela
O que mais tenho das duas; SABER E QUERER AMAR

                                              De Tiago Dotto (Goticus Eternus)