segunda-feira, 17 de maio de 2010

Catedral De Milão

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O caso da construção da Catedral de Milão – IL Duomo – é de extrema importância no estudo da geometria sagrada. Ele interessa em dois sentidos, o documental e o simbólico. A Catedral de Milão foi fundada em 1386 e, por essa razão, estava no centro de um encarniçada controvérsia relativa a que forma de geometria sagrada deveria ser utilizada: ad quadratum ou ad triangulum. Um grande número de peritos reuniu-se a fim de determinar o que seria feito na construção dessa obra-prima potencial. Talvez por causa da grande quantidade de peritos, desenvolveu-se entre os adeptos de um e de outro sistema uma encarniçada discussão.




Sabe-se que já em 1321, durante a ereção do domo da catedral de Siena, os cinco inspetores escolhidos para examinar a construção objetaram contra a continuação da obra “porque, se terminada como foi iniciada, ela não teria as medidas de comprimento, largura e altura que as regras previam para a igreja”. Uma disputa similar se verificou a respeito da construção da Catedral de Milão.

Atualmente, a Catedral de Milão é considerada uma obra-prima da arquitetura gótica tardia. Recentemente, sua estrutura foi algo sacudida pelas vibrações dos carros, dos ônibus e do metrô que trafegam ao seu redor, mas a sua gestação foi tão cheia de recriminações que parecia que ela nunca seria terminada.

 
A Catedral foi terminada em 1386 por ordem de Gian Galeazzo Visconti, que conquistara influência na cidade de Milão, graças ao expediente da morte de seu tio. Entretanto, nenhum outro edifício tão portentoso foi construído na Lombardia durante séculos, e logo os maçons experientes, encarregados do projeto, se defrontaram com sérios problemas. O lado teórico da geometria sagrada, segundo a qual o edifício deveria ser construído, se atolou numa discussão aparentemente insolúvel.

Inicialmente, a planta baixa da catedral foi desenhada de acordo com o ad quadratum, baseado no quadrado e no quadrado duplo, com uma nave central pronunciada, e naves laterais de igual altura. Essa planta, foi logo abandonada e foi substituída pelo ad triangulum, para a elevação – e foi aí que os problemas começaram. A altura de um triângulo eqüilátero, a base do ad triangulum é incomensurável com o lado do mesmo triângulo. Colocá-lo sobre uma planta baixa baseada no ad quadratum seria transformar a geometria sagrada e todas as proporções da elevação estariam completamente erradas.

A fim de retornar à lógica da geometria sagrada, foi chamado um matemático de Piacenza, Gabriele Stornaloco. Ele recomendou um arredondamento da altura das naves, de 83,138 braccia (braças), para 84 braças, que poderia ser facilmente dividida em seis unidades de 14 braças. Embora fosse aceitável em princípio, o esquema de Stornaloco foi posteriormente modificado, produzindo-se uma dedução na altura e trazendo-se a catedral para mais perto dos princípios clássicos. O Mestre Maçom alemão, Heinrich Parler se enfureceu com esse compromisso de medida verdadeira. Seus protestos levaram-no a se demitir do posto de consultor, em 1392. Em 1394, Ulrich von Ensigen veio da cidade de Ulm como consultor, mas ficou apenas seis meses em Milão. Os maçons da Lombardia lutaram entre si até 1399, cada qual defendendo a sua tese, quando Jean de Mignot foi chamada da França, para supervisionar as obras.

Mignot também não ficaria no cargo por muito tempo. Suas críticas aos princípios maçônicos locais foram tão pesadas que um comitê foi chamado para discutir os pontos que ele levantou.. Uma tal ignorância dos princípios geométricos e mecânicos góticos foi demonstrada pelos maçons lombardos, que eles tentaram argumentar que os arcos pontiagudos não poderiam justificar a geometria aberrante pretendida para o edifício. Exasperado, Mignot disse: “Ars sine scientia nihil est” (A arte não é nada sem a ciência). Recebeu a seguinte réplica dos maçons de Milão: “Scientia sine arte nihil est” (A ciência não é nada sem a arte).

Mignot voltou para Paris em 1401, sem ter feito progresso algum com os intransigentes maçons lombardos. Por métodos pragmáticos, os italianos improvisaram e terminaram o coro e os transeptos, por volta de 1450. Nem toda a catedral foi terminada, até que a fachada oeste foi finalmente acabada sob as ordens de Napoleão, em 1809.


A geometria do Duomo foi preservada numa edição de Vitrúvio, publicada em 1521. Ela mostra o plano e a elevação da catedral como uma ilustração dos princípios vitruvianos. Só esta ilustração é uma prova da unidade essencial dos sistemas clássicos e maçônicos da geometria sagrada. O esquema apresentado na gravura baseia-se no rhombus ou vesica. A elevação triangular dos corte transversal da catedral é mostrada em superposição a círculos concêntricos em que o quadrado e o hexágono são desenhados, demonstrando a relação da elevação com o a quadratum do plano básico.

Essa exposição da geometria sagrada maçônica de uma catedral é indicativa da atitude modificada diante dos mistérios antigos exibidos pelos escritores da Renascença. Ela se encaixa perfeitamente na tradição de Matthäus Röriczer, um maçom que revelou a sua arte, quebrando seu juramento de sigilo. Röriczer, que morreu em 1492, pertencia à terceira geração de uma família que servia de mestres maçons na Catedral de Regensburg. Matthäus era o Mestre de uma Loja onde fora projetada e executada toda a obra de construção, e assim era o responsável por todas as molduras e entalhes, por seu esboço e por seu desenho definitivo. Embora sendo um maçom, e estivesse preso ao juramento de não divulgar os mistérios maçônicos aos não-iniciados, ele deu um grande passo com a publicação de detalhes anteriormente ocultados nos livros de anotações da Lojas Maçônicas Operativas.

Embora a única obra publicada por Röriczer fosse um pequeno panfleto que deu solução a um problema geométrico, ela tem importância fundamental, porque é a única chave sobrevivente da geometria sagrada maçônica. A obra, intitulada On the Ordination of Pinacles, forneceu a solução para o problema de como erigir uma pináculo de proporções corretas a partir de uma dada planta baixa. Por volta do final do período medieval, os maçons estavam produzindo obras-primas do gótico flamboyant e perpendicular pelos meios mais simples. As plantas de execução (conhecidas na Inglaterra como “plats”) eram preparadas pelos maçons até nos seus mínimos detalhes. Ainda existem alguns “plats”, como os que foram desenhados para a fachada oeste da Catedral de Estrasburgo, por Michael Parler em 1385, e o da agulha da Catedral de Ulm, por Mathias Boblinger. Cada uma das partes do intrincado desenho é relatada aos seus camaradas por meio da geometria. O Maçom Operativo, equipado com esse diagrama, podia tomar uma dimensão como ponto de partida e como ela, utilizando-se de régua e compasso, a geometria chega ao plano do tamanho natural, desenhado sobre um “piso de decalque” de gesso, fazendo-se em seguida os gabaritos de madeira, segundo os quais as pedras finais eram cortadas e talhadas.

A exposição do sistema por Röriczer demonstra a simplicidade desse método canônico. Em vez de uma referência constante a medidas num plano, como na moderna prática da arquitetura, o pináculo (ou o pinásio, a ombreira da porta, o componente da abóbada, etc.) era “desenvolvido” a partir de um quadrado. A geometria, diferentemente da medida, é auto-reguladora, e quaisquer erros podem ser identificados de imediato. Seja qual for o tamanho do quadrado inicial, todas as partes do pináculo estão relacionadas a ele, em proporção natural. Como as dimensões do quadrado original poderiam ter sido derivadas como uma função da geometria global da igreja, o tamanho do pináculo estava relacionado harmoniosamente com o todo.

O livreto de Röriczer foi dedicado ao Príncipe Wilhelm, Bispo de Eichstadt, descrito na dedicatória como “um cultor e um patrono da arte livre da geometria”. Wilhelm era membro ativo do conselho de construções das igrejas de Regensbur, Ulm e Ingolstadt. Assim, Wilhelm não era apenas um administrador, mas uma pessoa bastante interessada em conhecer a metodologia exata que está por trás da geometria sagrada. Esses homens foram os primeiros “maçons especulativos”, patronos ricos que desejavam sinceramente conhecer os segredos dos maçons operativos. A fim de obter esses segredos, os patronos eram geralmente admitidos na Irmandade dos Maçons por meio de ritos iniciatórios típicos. Como as atividades dos maçons diminuísse com o surgimento dos arquitetos, aumentou o número de “maçons especulativos”.

Nesse meio tempo, as Lojas operativas maçônicas foram sendo fechadas. A última delas foi a primeira Loja da Europa – a de Estrasburgo, que fechou em 1777. A partir de então, as artes e os mistérios da Maçonaria foram mantidos apenas pelos maçons especulativos.

Sobre a Catedral de Milão, acrescentamos por último que ela foi construída sobre as bases de um templo romano, construído no estilo românico. Na entrada da Catedral fica a escada que leva às escavações feitas no seu subsolo. Nestas escavações, podem ser vistos ainda os restos do antigo templo, bem como as relíquias que o decoravam

3 comentários:

  1. Lindas imagens ... construções magníficas ... levam-nos a imaginar o que poderemos absorver de seu interior ... pena às vezes na vida as coisas externas existirem apenas para taparem o nada interno ou enxergarmos apenas um espelho.

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  2. Quanta suntuosidade heim?
    Adorei ver as fotos, viajei aqui..rs
    E vc sabe do meu encanto por tudo
    da Italia né...
    então pra mim foi um presente!!
    (um dia vou lá ver de perto) rsrs
    bju em seu coração

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  3. ei galera msn meu jer-fer-son2@hotma... ae viva ao movimento ghotico

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